LITERATURA COMPARADA


Para responder à questão, leia atentamente o trecho a seguir, retirado do livro A obscena senhora D, de Hilda Hilst:

 

"Quando Ehud morreu, morreram também os peixes do aquário, então recortei dois peixes pardos de papel, estão comigo aqui no vão da escada, no aquário dentro d'água, não os mesmos, a cada semana recorto novos peixes de papel pardo, não quero mais ver coisa muito viva, peixes lustrosos não, nem gerânios, maçãs, romãs, nem sumos, suculências, nem laranjas." (HILST, 1986 p. 62).

 

Na poesia de Hilda, podemos perceber que o nada se identifica, muito amiúde, com a morte. Além dessa consideração, podemos afirmar também que:




  • Podemos antever nas cenas em que a senhora D recorta peixes de papelão, a tentativa de Hilda demonstrar que sua personagem sofre e, ainda, impõe uma dura realidade para que sofra ainda mais em sua vida. O sofrimento é uma benção.

  • Hilda deixa transparecer a suas personagens um aspecto de que a perda é algo irreparável, logo, após a perda de um ente querido, todas suas personagens beiram a loucura.

  • Neste trecho, Hilda tenta tornar o nada assimilável. Mesmo sendo o caos absoluto, a alteridade intransponível, o nada é lentamente assimilado, numa tentativa estoica de tornar familiar o grande absurdo da existência humana.
  • Neste trecho, Hilda tenta conceituar o "nada", dando-lhe formas e características típicas baseando-se na teoria de Sigmund Freud.

  • A morte, segundo Hilda é tudo, ou seja, vivemos a vida apenas esperando a morte.