TEORIA DA LITERATURA


O carro estava encostado no meio-fio, com um pneu furado. De pé ao lado do carro, olhando desconsoladamente para o pneu, uma moça muito bonitinha. Tão bonitinha que atrás parou outro carro e dele desceu um homem dizendo "Pode deixar". Ele trocaria o pneu.

 

– Você tem macaco? - perguntou o homem.

 

– Não - respondeu a moça.

 

– Tudo bem, eu tenho - disse o homem - Você tem estepe?

 

– Não - disse a moça.

 

– Vamos usar o meu - disse o homem. E pôs-se a trabalhar, trocando o pneu, sob o olhar da moça. Terminou no momento em que chegava o ônibus que a moça estava esperando. Ele ficou ali, suando, de boca aberta, vendo o ônibus se afastar. Dali a pouco chegou o dono do carro.

 

– Puxa, você trocou o pneu pra mim. Muito obrigado.

 

– É. Eu... Eu não posso ver pneu furado. Tenho que trocar.

 

– Coisa estranha.

 

– É uma compulsão. Sei lá.

 

(VERÍSSIMO, Luís Fernando. Pneu furado. In: Pai não entende nada. L&PM, 1991).

 

De acordo com seus estudos, a crônica Pneu Furado, de Luís Fernando Veríssimo, pode ser classificada como:

 




  • Temporal.

  • Conto.

  • Atemporal.

  • Mini-Conto.

  • Lírica.