Considerando o trecho abaixo de “Borralheira ou A chinelinha de Cristal”, presente nos Contos de Mamãe Gansa, de Charles Perrault, assinale a alternativa incorreta:
“Era uma vez um fidalgo que se casou em segundas núpcias com a mulher mais arrogante e orgulhosa que já se viu. Ela tinha duas filhas da mesma laia, que se pareciam com ela em tudo. O marido, por sua vez, tinha uma filha jovem, dotada de meiguice e bondade sem igual; nisso tinha puxado à mãe, que era a melhor mulher do mundo. Nem bem acabou o casório, a madrasta já deu expansão aos seus maus bofes; não pôde suportar as boas qualidades da mocinha, que tornavam suas filhas ainda mais detestáveis. (...)”
PERRAULT, Charles. Contos de Mamãe Gansa (Locais do Kindle 666-670). L&PM Editores. Edição do Kindle.
Charles Perrault, ao adotar tal linguagem em seus contos, mostra-se a favor de um uso inventivo da língua e não tanto prescritivo, ao contrário de Boileau – defensor ferrenho da manutenção de certa tonalidade clássica na arte literária.
A passagem contém elementos de linguagem popular, com léxico que acentua a origem oral da narrativa e expressões que dão um caráter mais fluido ao conto.
As marcas de oralidade no conto representam uma crítica de Perrault ao uso da linguagem popular na literatura.
“Da mesma laia”, “que já se viu” e “seus maus bofes” são expressões utilizadas na versão brasileira, tradução bastante fiel do conto original em francês, as quais materializam esse apelo popular da linguagem.
O uso do termo “casório” sugere a presença do caráter popular no conto.