LITERATURA AFRICANA DE LÍNGUA PORTUGUESA
Leia o fragmento que segue, retirado do conto “O dia em que explodiu Mabata-bata”, de Mia Couto:
De repente, o boi explodiu. Rebentou sem um múúú. No capim em volta choveram pedaços e fatias, grão e folhas de boi. A carne eram já borboletas vermelhas. Os ossos eram moedas espalhadas. Os chifres ficaram num qualquer ramo, balouçando a imitar a vida, no invisível do vento.
O espanto não cabia em Azarias, o pequeno pastor. Ainda há um instante ele admirava o grande boi malhado, chamado de Mabata-bata. O bicho pastava mais vagaroso que a preguiça. Era o maior da manada, régulo da chifraria, e estava destinado como prenda de lobolo1 do tio Raul, dono da criação. Azarias trabalhava para ele desde que era órfão. Despegava antes da luz para que os bois comessem o cacimbo2 das primeiras horas. (COUTO, Mia. O dia em que explodiu Mabata-bata. In: CHAVES, Rita (org.). Contos Africanos dos países de língua portuguesa. São Paulo: Ática, 2009, p. 14)
1 – Dote que o noivo paga aos familiares da noiva para casar-se com ela. Esse valor leva em conta que, a partir do casamento, a mulher entregará sua força de trabalho a outro grupo familiar.
2- Umidade semelhante ao orvalho.
Com base na leitura e em seus estudos sobre a literatura moçambicana, pode-se perceber que: