LITERATURA AFRICANA DE LÍNGUA PORTUGUESA


Fui até ao final do horizonte em busca do amor perdido. Fiz de tudo. Andei dias, noites, passei insônias, desespero, e o meu amor cada vez mais distante. Comecei a frequentar em segredo uma seita milagrosa. Fiz-me batizar no rio Jordão – que era a praia da Costa do Sol. Nos milagres desta seita até o mar se transforma em rio. Fiz banho de farinha de milho. De pipocas. De sangue de galinha mágica. Soltei pombos brancos para trazerem de volta o amor perdido nos quatro cantos do mundo e nada! ( CHIZIANE, 2004, p.65-66)

Com base na leitura deste fragmento, retirado de Niketche, de Paulina Chiziane, pode-se perceber que:




  • A autora tece uma narrativa sobre conflitos trágicos causados pelo sentimento mais complexo que o ser humano pode sentir: o amor.

  • Paulina, neste fragmento, organiza um discurso político entrelaçado com o lirismo das histórias da tradição oral.

  • Há um discurso masculino machista predominante passível de desconstrução em relação ao ponto de vista feminino.

  • A presença da questão da incompatibilidade entre as crenças religiosas, o que permite uma percepção de dois mundos: o contemporâneo, feito de realidades novas e evolutivas, e o que vem do passado, de uma tradição cultural que se baseia em ritos moçambicanos locais.

  • Por meio de um modo feminino de ver a realidade da mulher angolana, a autora discute sobre as questões políticas e culturais de seu país.