LITERATURA AFRICANA DE LÍNGUA PORTUGUESA
ITINERÁRIO PARA PASÁRGADA
Osvaldo Alcântara
(Baltasar Lopes)
Saudade fina de Pasárgada…
Em Pasárgada eu saberia
onde é que Deus tinha depositado
o meu destino…
E na altura em que tudo morre…
(cavalinhos de Nosso Senhor correm no céu;
a vizinha acalenta o sono do filho rezingão;
Tói Mulato foge a bordo de um vapor;
o comerciante tirou a menina de casa;
os mocinhos de minha rua cantam:
Indo eu, indo eu
a caminho de Viseu…)
Na hora em que tudo morre,
esta saudade fina de Pasárgada
é um veneno gostoso dentro do meu coração.
Vou-me embora pra Pasárgada
Manuel Bandeira
Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconsequente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe - d’água.
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar
E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
- Lá sou amigo do rei -
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.
Como vimos em nossos estudos, os autores cabo-verdianos, principalmente os iniciadores da revista Claridade, tiveram muito influência e diálogos com autores brasileiros.
Os poemas apresentados anteriormente são, respectivamente, de Osvaldo Alcântara e Manuel Bandeira. Com base na leitura dos textos, analise as afirmações que seguem:
I- A relação intertextual pode ser percebida já no título da obra de Osvaldo Alcântara.
II- Percebe-se que a Pasárgada de Bandeira é um local real, conhecido pelo autor, enquanto que a descrita por Osvaldo Alcântara é fantástica, imaginária, totalmente fora da realidade.
III- Nos dois poemas, pode-se perceber o sentimento de escapismo, fuga de uma realidade desconfortável.
IV- No poema de Osvaldo Alcântara, o uso de palavras no diminutivo , demonstram um sentido afetuoso.
V- Em ambos, percebe-se a capacidade de capturar poeticamente o sublime presente em um momento comum, usando uma linguagem rebuscada, formal.
Com base na análise realizada, pode-se afirmar que são corretas apenas as afirmações contidas em: