ESTUDOS GRAMATICAIS


Observe a narrativa abaixo.

 

Restos

Luciano Serafim

 

Minha Nossa Senhora do Bom Parto! O caminhão do lixo já deve ter passado! Eu juro, seu poliça, foi nessa lixeira aqui! Nessa mesminha! Eu vim catar verdura, sempre acho umas tomate, umas cenoura, uns pimentão por aqui. Tudo bonzinho, é só lavar e cortar os pedaço podre, que dá pra comer ... Aí quando eu puxei umas folha de alface, levei o maior susto. Quase desmaiei, até.

Eu, uma mulher assim fornida que nem o seu poliça tá vendo, imagine: fiquei de pernas bambas. Me deu até tontura. Acho que também por causa do fedor... Uma carniça que só o senhor cheirando, pra saber. Mas eu juro por tudo que é mais sagrado! Tinha sim um anjinho morto nessa lixeira! Nessa aqui!

Coitadinho... Deve ter se esgoelado de tanto chorar. A gente via pela sua carinha de sofrimento. Ele tava com a boquinha aberta, cheinha de tapuru. Eu nem reparei se era menino ou menina, porque eu fiquei morrendo de pena... E de medo, também... Os olho... Me alembro direitinho... Esbugalhados, mas com a bola preta virada pra dentro, sabe? Ai! Soltei um berro e saí correndo.

 

Fonte: Disponível em: Acesso em 14 jul 2017, adaptado.

 

A utilização da linguagem coloquial no texto acima permite-nos afirmar que:




  • O personagem que narra a história apresenta nível culto da Língua Portuguesa, representado, por exemplo,  ao fazer construções tais como “os pedaço podre” e “sempre acho umas tomate”.

  • A utilização do pronome oblíquo antes do verbo no trecho “Me deu até tontura” é característica da linguagem coloquial, mas dita como inadequada pela gramática normativa.

  • O emprego das palavras “poliça”, “tá”, “pra” e “tava” mostra a utilização da linguagem culta da Língua Portuguesa, apropriada a esse tipo de texto, pois narra um acontecimento do cotidiano.

  • No trecho “Me alembro direitinho”, a utilização do pronome pessoal do caso oblíquo me está de acordo com a gramática normativa, pois podemos iniciar orações com esse tipo de pronome.

  • O autor utilizou a linguagem coloquial para mostrar a distância presente entre leitor e escritor, pois o escritor tem a liberdade de manipular as palavras; já o leitor só de receber a informação dada.