LITERATURA AFRICANA DE LÍNGUA PORTUGUESA
- Fui sonhado por ti - disse-lhe o pássaro - com o fim de esclarecer o espírito dos homens e de trazer a liberdade a este pobre pais.
O discurso do pássaro assustou o enfermeiro, homem simples, tímido, avesso a confrontos, e sem qualquer vocação para a política.
- Foi apenas um sonho - disse à mulher -, um sonho estúpido.
Na noite seguinte, porem, o pássaro voltou a aparecer-lhe. Estava ainda mais branco, mais trágico, e parecia aborrecido com o desinteresse do enfermeiro: - Ordeno-te que vás por esse país fora e digas a todos os homens que se preparem para um mundo novo. Os brancos vão partir e os pretos ocuparão as casas, os palácios, as igrejas e os quartéis, e a liberdade há de reinar para sempre. Dizendo isto sacudiu as asas e as suas penas espalharam-se pelo quarto:
- Com estas minhas penas hás de curar os enfermos - disse o pássaro -, e assim até os mais incrédulos acreditarão em ti e seguirão os teus passos. (AGUALUSA, José Eduardo. Passei por um conto. In: CHAVES, Rita (org.). Contos Africanos dos países de língua portuguesa. São Paulo: Ática, 2009, p. 106-107)
Após a leitura do fragmento do conto “Passei por um conto”, de Agualusa, e seus estudos sobre a literatura angolana, podemos perceber: