LITERATURA AFRICANA DE LÍNGUA PORTUGUESA


Leia com atenção o fragmento que segue, retirado do texto “Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra”, de Mia Couto.

 

As suas mãos trabalham na braguilha das calças do falecido. Dulcineusa me confessou mais tarde: era assim que o marido gostava de começar as intimidades. Um fazer de conta que era outra coisa, a exemplo do gato que distrai o olhar enquanto segura a presa nas patas. Esse o acordo silencioso que tinham: ele chegava em casa e se queixava que tinha um botão a cair. Calada, Dulcineusa se armava dos apetrechos da costura e se posicionava a jeito dos prazeres e dos afazeres.

 

(COUTO, M. Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra. São Paulo: Cia. das Letras, 2002.)

 

 

Nesse fragmento pode-se notar o universo feminino em seu contexto doméstico, com base na análise do trecho apresentado, observa-se que

 

 




  • à mulher cabe o poder da sedução, expresso pelos gestos, olhares e silêncios que ensaiam.   

  • desejo sexual é entendido como uma fraqueza moral, incompatível com a mulher casada.   

  • a mulher incorpora o sentimento de culpa e age com apatia, como no mito bíblico da serpente.   

  • a dissimulação e a malícia fazem parte do repertório feminino nos espaços público e íntimo.  

  • a mulher tem um comportamento marcado por convenções de papéis sexuais.