LITERATURA PORTUGUESA
Leia o fragmento a seguir, retirado do romance A Sibila, de Augustina Bessa-Luís:
“Contudo, Quina tinha obtido para si uma contribuição no convívio com certa fauna que ela jamais frequentara - a sociedade. Passou a ser admitida numa ou noutra casa fidalga, onde o seu gênio pitoresco, de conselheira que brinca com a gravidade das próprias sentenças, lhe suscitou um relativo sucesso. Teve amigas nessas mulheres que tanto mais se honram quanto mais razões de despeito encontram entre si, e entregam os seus segredos àquela de quem temem a rivalidade. Quina tornou-se indispensável para presidir obscuramente nesse mundo secreto, íntimo, sem artifício, em que os espartilhos se afrouxam, os cabelos se apresentam eriçados de ganchos e de papelotes, e o rosto apeia a sua máscara cheia de farfalhices de sentimentos, poder atractivo, fluído de mentiras e intensíssimas fadigas de atenção. Ali, ela era bem-vinda, nesses boudouirs negros, assistindo ao demolhar dos calos em água salgada, à aplicação de receitas aparentadas de perto com velhas indicações de magia e a física primitiva - a urina que suavizava o cieiro da pele, o leite de mulher para as dores de ouvidos, as presas de 'corneta' como amuleto, fórmulas, preceitos que mantinham um sabor de harém e de barbárie e elas cumpriam a ocultas com essa fé pelas coisas em que o mistério é uma garantia de possibilidade. Ainda que simulem obedecer e optar pelo vanguardismo dos costumes, as mulheres são rebarbativas às inovações.”
Muito mais do que ser um romance de ação, o texto, busca uma espécie de compreensão das motivações psicossociais que sustentam a história de uma família rural típica do Norte do Portugal.
A partir do texto, assinale a alternativa que melhor representa como o narrador considera esse mundo social, externo, em oposição ao universo íntimo e secreto das mulheres: