Dentro de mim me quis eu ver. Tremia, Dobrado em dois sobre o meu próprio poço... Ah, que terrível face e que arcabouço Este meu corpo lânguido escondia!
Ó boca tumular, cerrada e fria, Cujo silêncio esfíngico bem ouço! Ó lindos olhos sôfregos, de moço, Numa fronte a suar melancolia!
Assim me desejei nestas imagens. Meus poemas requintados e selvagens, O meu Desejo os sulca de vermelho:
Que eu vivo à espera dessa noite estranha, Noite de amor em que me goze e tenha, ...Lá no fundo do poço em que me espelho!
No poema de José Régio, é possível identificar as principais características da estética da “Geração da Presença.” São elas:
Presença do misticismo e do espiritualismo; negação do espírito científico e materialista dos realistas/naturalistas; forte influência do subjetivismo; interesse pelo particular e pelo individual em detrimento do universal. Percebe-se também uma aproximação da poesia com a música por meio da utilização de recursos como a aliteração.
Entre as principais características da“Geração da Presença” que podem ser encontradas no poema de José Régio, estão a escrita automática, a livre associação de ideias e palavras e a modificação das estruturas da realidade baseadas nos conteúdos oníricos.
A “Geração da Presença”apresentou uma poesia alucinada, irreverente e chocante, cujo objetivo era o de provocar a burguesia acostumada à estagnação cultural portuguesa. Libertou-se de qualquer compromisso de caráter histórico, expressando na literatura o espanto de existir do homem moderno. Tais características são predominantes no poema Narciso.
Concepção da literatura como produto de um contexto histórico-social específico, de uma realidade concreta. Os textos apresentavam denúncia da alienação e dos fatores que tornam possível tal realidade, como a exploração dos trabalhadores, a falta de educação, as precárias condições de saúde e o governo ditatorial.
Como traço característico da literatura produzida pelos jovens da“Geração da Presença”, observa-se a opção por uma certa alienação social. Atuando em um momento de sérias crises políticas, esses escritores preferiram interrogar o sentido da existência humana, criando uma literatura introspectiva.