Aurélia pousara a mão no ombro do marido (...), colocou-se diante de seu cavalheiro e entregou-lhe a cintura mimosa. Era a primeira vez, e já tinham mais de seis meses de casados; era a primeira vez que o braço de Seixas enlaçava a cintura de Aurélia. Explica-se pois o estremecimento que ambos sofreram ao mútuo contacto (...). As senhoras não gostam da valsa, senão pelo prazer de sentirem-se arrebatadas no turbilhão.(...) Mas é justamente aí que está o perigo. Esse enlevo inocente da dança entrega a mulher palpitante, inebriada, às tentações do cavalheiro, delicado embora, mas homem, que ela sem querer está provocando com o casto requebro de seu talhe e traspassando com as tépidas emanações de seu corpo. (Senhora,José de Alencar)
No fragmento transcrito, de Senhora,
confronta-se a atitude feminina, atrevida, com a atitude masculina, sincera e respeitosa, traço de composição que justifica a inclusão da obra entre os romances realistas do autor.
a referência ao prazer do arrebatamento, ao requebro, às tépidas emanações do corpo evidencia que o romance analisa as personagens segundo princípios do Naturalismo.
descreve-se um hábito da sociedade brasileira do século XIX, focalizado como típico de ambientes pouco refinados, afastados dos costumes da Corte.
a linguagem narrativa sofre a interferência do discurso dissertativo, com o qual o narrador, a partir de uma dada situação, tece comentários acerca do comportamento retratado.
o leitor é informado não só sobre a ação e as sensações das personagens, mas também “escuta” o que pensa uma delas acerca a prática da valsa.