BIOLOGIA EVOLUTIVA


“Aristóteles – e não foi a primeira vez – estava certo. As hienas fêmeas são virtualmente indistinguíveis dos machos. Seu clitóris, alongado e aumentado, é um órgão do mesmo tamanho, forma e posicionamento do pênis do macho. Também pode ter ereção. Seus grandes lábios viram-se para cima e fundem-se, tomando a forma de um falso escroto, que não é visivelmente diferente, em seu aspecto, do verdadeiro escroto dos machos. Contém até um tecido adiposo formando duas intumescências confundíveis com testículos. Os autores do mais recente trabalho sobre as hienas-pintadas acharam a aparência dos machos tão próxima à das fêmeas que o sexo só podia ser determinado com certeza pela ‘apalpação’ do escroto. Com esse teste era possível perceber testículos no escroto do macho, em comparação com o tecido adiposo e mole encontrado no falso escroto das fêmeas.”

Fonte: GOULD, Stephen Jay. A galinha e seus dentes e outras reflexões sobre história natural. Stephen Jay Gould; tradução David Dana. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992.

A teoria do filósofo grego Aristóteles foi aceita universalmente e perdurou por cerca de 2000 anos. Para a visão aristotélica:




  • a evolução das hienas fêmeas nos permite investigar como acontecem as mudanças nos seres vivos, apesar de ser ainda um conceito litigioso em nossa sociedade fora da comunidade científica.

  • o falso escroto das hienas-pintadas são causadas por influência do ambiente e, a partir daí, pelo uso ou desuso, são conservadas pela reprodução.

  • existe uma gradação completa na natureza. O estágio mais abaixo é o inorgânico. O mundo orgânico surgiu do inorgânico por metamorfose direta.

  • as hienas fêmeas são virtualmente indistinguíveis dos machos porque os genes, de modo positivo ou negativo, evoluem a uma taxa que é mutável.

  • poderia ter ocorrido a alteração na sequência de bases de DNA, exatamente no segmento dos cromossomos das células germinativas que contêm os genes, originando a forma de um falso escroto nas hienas fêmeas.