INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS LITERÁRIOS


Oh! ter vinte anos sem gozar de leve
A ventura de uma alma de donzela!
E sem na vida ter sentido nunca
Na suave atração de um róseo corpo
Meus olhos turvos se fechar de gozo!
Oh! nos meus sonhos, pelas noites minhas
Passam tantas visões sobre meu peito!
Palor de febre meu semblante cobre,
Bate meu coração com tanto fogo!
Um doce nome os lábios meus suspiram,
Um nome de mulher... e vejo lânguida
No véu suave de amorosas sombras
Seminua, abatida, a mão no seio,
Perfumada visão romper a nuvem,
Sentar-se junto a mim, nas minhas pálpebras
O alento fresco e leve como a vida
Passar delicioso... Que delírios!
Acordo palpitante... inda a procuro;
Embalde a chamo, embalde as minhas lágrimas
Banham meus olhos, e suspiro e gemo...
Imploro uma ilusão... tudo é silêncio!
Só o leito deserto, a sala muda!
Amorosa visão, mulher dos sonhos,
Eu sou tão infeliz, eu sofro tanto!
Nunca virás iluminar meu peito
Com um raio de luz desses teus olhos?


 Os versos acima integram a obra Lira dos Vinte Anos, de Álvares de Azevedo. Da leitura deles podemos depreender que o poema




  • concilia sonho e realidade e ambos se alimentam da presença sensual da mulher amada. 

  • revela sentimento de frustração provocado pelo medo de amar e pela recusa doentia e deliberada à entrega amorosa. 

  • espiritualiza a mulher e a apresenta em recatado pudor sob “véu suave de amorosas sombras”.  

  • ilustra a dificuldade de conciliar a ideia de amor com a de posse física. 

  • manifesta o desejo de amar e a realização amorosa se dá concretamente em imagens de sonho.